30 novembro, 2020

Falemos de horas

    Horas. Aquilo que nos diz que não podemos dormir mais, que já devíamos ter começado a estudar, ou que estamos atrasados para o trabalho. Não no meu caso, estou desempregado e já acabei de estudar há algum tempo. Mas enquanto estudei e trabalhei, sofri com estes problemas. Claro que “problemas” é uma palavra muito forte para o que referi. O verdadeiro problema é como as horas são ditas.
    Todos os relógios digitais que usei tinham a apresentação em 24 horas, mas sempre li as horas da uma às onze, e depois ou era meio-dia ou meia-noite e tal. Contudo, a convivência com outras pessoas mostrou-me que nem todos fazem o mesmo. Perfeitamente natural. Pode até ser importante dizer as horas de 1 a 24. Para viajar de avião é essencial, é extremamente desagradável chegar ao aeroporto às duas da tarde e descobrir que o voo saiu às duas da manhã. Ou pior, chegar às duas da manhã e ver que afinal é preciso esperar doze horas.
    A CP tem o mesmo sistema. Uma vez testemunhei uma compra de um bilhete por um amigo que estava de férias em minha casa e que queria ir no comboio das quatro e dez, ao que o senhor da bilheteira respondeu que não havia comboios a essa hora. Nós mostrámos o horário onde tínhamos visto o comboio e o senhor responde “ah, o das dezasseis e dez. Sim, sim, ainda tem lugar”. Isto é um misto de preciosismo necessário e de parvoíce. Faltava um quarto de hora para o comboio passar e era óbvio que ninguém queria comprar um bilhete para as quatro da manhã a meio da tarde. Noutra situação, este preciosismo seria importante, sem dúvida. Aqui, não.
    Isto é aceitável, até recomendável. Mas há um outro tipo de pessoas, que se referem sempre pelas 24 horas. Por exemplo, para ver futebol. A conversa habitual segue esta linha:
     – Queres ver o jogo amanhã?
     – Claro. É às seis e vinte, não é?
     – Sim, deve começar por volta das dezoito e vinte.
    É preciso? Não. Se houvesse jogo às seis da manhã, nem os jogadores iam. Com a Liga dos Campeões, é o mesmo, mas é às dezanove e quarenta e cinco. Um quarto para as oito, pá! O pior de tudo é ainda haver a correcção do que eu disse, não vá eu confundir-me e tocar à campainha de madrugada. E isso nunca irá acontecer, os meus amigos sabem perfeitamente que já acabei de estudar e não trabalho, portanto, de madrugada não vou estar acordado.