Excelente música dos Oasis. E, tal como a personagem da letra, também sou fã de deixar
para amanhã o que não me apetece fazer hoje. Mesmo coisas que se despacham
depressa, gosto de juntar para fazer todas de uma vez. Não vale a pena fazer
uma coisinha agora se vai aparecer outra amanhã de manhã. No entanto, há uma actividade que deixo sempre
para aquele amanhã que nunca chega, mas pela qual sou regularmente interpelado.
Quando entrei no emprego em que estou, fui ao escritório
conhecer alguns dos colegas novos e o primeiro, depois dos clássicos “de onde
vens?”, “onde estudaste?”, e por aí fora, sai-se com um “corres?” Basta olhar
para mim para saber a resposta, mas esta pergunta é uma constante na minha
vida, e nunca percebi porquê. Em todos os empregos que tive me perguntaram
isso, e depois tive de levar a doutrina da corrida em duas fases: a primeira só
ao de leve, porque acabámos de nos conhecer, a segunda já mais intensa, para ver
se entro no culto. É preciso muita força para conseguir fugir, porque esta
gente não aceita um não como resposta.
Para mim, é fácil arranjar razões para não ir correr, mas
para eles é ainda mais fácil dar resposta. São os Federer’s da contra-argumentação.
Acordar às 5 da manhã é horrível: vais ver que te habituas e depois até tens
mais energia durante o dia. 0-15. Só tenho uma hora para almoçar e não dá tempo:
podes correr 40 minutos. Tomar banho, trocar de roupa, e comer é muito fácil,
se estiveres disposto a isso. 0-30. Ao fim do dia já estou cansado: com o tempo
deixas de sentir isso e até vais sentir falta nos dias em que não correres.
0-40. E fecham o set com: é preciso gastar energia para ter energia. Espera lá,
onde é que já ouvi esta? Ah, pois. É um esquema de pirâmide. Para além da
tortura de ter que me forçar a fazer uma coisa que não gosto de fazer até
gostar, na volta ainda tenho de arranjar 3 pessoas para criar uma rede e ganhar
a energia deles. Nessa não me apanham outra vez.
A nível pessoal, tenho dois amigos que correm, e um que
pensa em começar mês sim mês não. Todos me perguntam se quero ir com eles,
sabendo deste meu desagrado especial pela actividade, porque ir acompanhado é
muito melhor. O mais estranho é eles conhecerem-se todos, mas quando sugiro que
falem uns com os outros, afinal gostam é de correr sozinhos. E aí mando eu o smash:
“então não era melhor ir acompanhado?” Game, Set, and Match.