Estamos
naquela altura do ano em que mais se fala de quartos. É um bocadinho como o
ciclo da água, começa como um problema sólido, vai-se derretendo, e evapora-se.
Mais tarde, começa a condensar e torna-se sólido de novo.
Com o
regresso às aulas, muitos estudantes têm de se mudar para outra cidade e
procurar um sítio onde ficar, momento esse em que se repara, escandalosamente,
que os preços dos quartos são altíssimos para condições baixíssimas (excepto numa
certa e determinada residência em Lisboa). Quase parece o mercado imobiliário
nas grandes cidades. Na volta, estão relacionados.
No
entanto, não parece haver grande razão para isso acontecer. Até parece que os
estudantes passam muito tempo em casa. Durante o dia, estão na faculdade, à
noite, vão sair. Na verdade, só precisam de um sítio para dormir e guardar as
coisas, e para tomar banho, caso seja necessário. Não se gasta assim tanta
energia, e a degradação do espaço é mais ou menos a mesma que a de um edifício
abandonado. A única altura em que usam os quartos é ao fim de semana. Não vale
a pena ir a casa porque os pais estão no segundo emprego que arranjaram para
pagar a renda. Quase podia ser por ganância, não fosse a ideia ridícula de alguém
se estar a aproveitar de estudantes. Felizmente, agora há a nova lei da devolução
das propinas por cada ano trabalhado em Portugal. Isto significa que, num curso
de 3 anos, é devolvido o suficiente para uns 5 ou 6 meses de renda. Os outros 30
ficam logo mais leves.
O mais estranho,
e também a semelhança mais forte com o ciclo da água, é ser, de facto, cíclico.
No início do ano escolar, é um problema gritante. Todos os jornais escrevem
artigos onde apresentam valores médios das rendas, e mostram indignação. As
televisões fazem reportagens à paisana com câmaras escondidas a falar com
velhotas que alugam quartos pequenos em caves sem luz natural a 400€ por mês,
sem recibo, e mostram indignação. Entretanto, as aulas começam, a maior parte
dos estudantes já tem onde ficar, e têm de estudar. Depois, mete-se o natal e a
época de exames, e não dá para pensar nisso. A seguir, vem o segundo semestre e
é preciso estudar outra vez, depois exames, e pronto, acabou o ano.
O
chato é o calendário, porque isto acontece sempre ali no final de Agosto,
início de Setembro, e os partidos costumam estar ocupados com a rentrée,
que é o equivalente à época de exames. Só se pode pensar nisso quando acabar.