20 maio, 2025

Isto é futebol!

    Estamos a chegar ao fim da época de futebol. Infelizmente, isso não significa nada, porque agora vem aí um mundial de clubes que ninguém quer jogar, excepto quem está a pensar nas demonstrações de resultados. Quando acabar, já estamos perto dos play-offs para as competições europeias, e recomeça tudo.
    Entretanto, enquanto o pau vai e vem, temos uma pausa dos lugares-comuns que imperam no futebol. Principalmente, vamos poder descansar da expressão “nesta altura do campeonato”, visto que não há campeonato. Até porque esta expressão nem faz sentido, porque é usada em momentos menos bons, mas, no fundo, não há altura nenhuma do ano em que esses momentos possam acontecer.
    Os jornalistas também vão sofrer. Já ninguém vai endossar bolas que são recepcionadas pelos colegas, e o esférico não vai rolar para lado nenhum. O jogo não vai virar e não vai haver nenhum jogador com pendor ofensivo. Não vão poder estar duas horas a comentar tudo o que cada jogador faz todos os dias, excepto no jogo que está a decorrer no momento, ou para onde irá no próximo mercado de transferências. Vê-se futebol não para ouvir o relato do jogo, mas para estar a par da vida difícil dos jogadores.
    Por outro lado, podemos aproveitar este tempo para pensar um bocadinho em algumas coisas. Ou, aliás, numa coisa. No último mês, tem havido várias notícias sobre problemas com vício de jogo. E depois ligamos a televisão, e há anúncios de sites e apps de apostas aos pontapés, a liga é patrocinada por uma casa de apostas, e muitos clubes têm patrocínios de casas de apostas na camisola. Não sou advogado, nem nunca estudei nem nada, mas gostava de saber se isto não é um conflito de interesses, visto que as casas de apostas ganham a vida com resultados desportivos… de organizações que elas próprias patrocinam. Se calhar, não é, não sei. Só faço a minha parte, que é não comprar uma camisola do meu clube (vamos, gansos!), enquanto tiver uma casa de apostas na camisola.
    E pronto. Por agora, temos um compasso de espera antes de voltar à carga e começar a distribuir jogo por tudo o que é serviço pago, porque o objectivo é chegar ao maior número de pessoas possível, obviamente. É por isso que é pago, e não transmitido nos canais da FIFA, da UEFA, ou de quem for. Para chegar a mais gente.





Não relacionado, 25 de Abril sempre, fascismo nunca mais.


20 abril, 2025

O rei morreu. Felizmente, estou cá eu

    De vez em quando, morre gente. É natural, e toda a gente tem tendência para o fazer pelo menos uma vez na vida. Mas às vezes, morre gente famosa, e isso é muito chato. Chato por morrer alguém, claro, mas também chato pelos que ficam. Não para os que ficam, isso é só quando morre alguém próximo. É mesmo pelos que ficam.
    As pessoas famosas têm colegas de profissão, igualmente famosos, e pessoas que tentam ser colegas e famosas. Nesta era das redes sociais, isso é uma grande chatice. Lemos a notícia, e têm logo vários links para posts de outras pessoas a lamentar a partida do defunto, metendo pelo meio uma certa e determinada autopromoção. Quantas vezes vimos já textos tipo: morreu fulano tal, uma grande perda. Nunca me vou esquecer daquele dia em que me cruzei com ele, completamente por acaso, no café onde ia todas as manhãs, e me disse “tu vais ser o futuro do romance histórico no país, aguenta-te firme que as pessoas vão perceber”. Verídico? Possível. Apropriado? Discutível.
    Ou: morreu fulano tal, a música nunca mais será a mesma. Apesar de já não fazer nada de novo há 20 anos, disse-me uma vez que eu era o herdeiro do espírito criativo e de ruptura com a norma que o trouxe para os grandes palcos nos anos 1980.
    As televisões e a rádio também têm alguma culpa. Também gostam de telefonar a famosos aleatórios a perguntar o que achavam do morto, e é sempre na linha do “gostava muito dele, e ele de mim, costumava enviar-lhe as minhas coisas novas e ele respondia sempre que tinha gostado muito, era um grande admirador da minha obra”.
    A questão é que é para falar da outra pessoa. Se a pessoa é famosa, basta ir à net e escrever o nome, nem é preciso inventar nada. Recomendo a estandardização: os telejornais escrevem um texto do tipo “acabei de saber e fiquei triste, fez excelentes contributos na sua área, vou ter saudades”. E pronto. Se for assim curtinho, podem ter montes de gente a dizer que ficou triste, não se perde tempo com desvios de conversa.

20 março, 2025

A par e já passou

    Actualmente, vivemos numa época de rápidas mudanças. Tudo dura pouco tempo, e é preciso haver estímulos novos a intervalos de tempo muito curtos. Aqui, tento falar sobre alguma coisa que me chame a atenção, porque nem sempre estas coisas acontecem na altura em que escrevo. Além disso, quase ninguém lê este blog (olá, Tiago), até parece que vai fazer diferença.
    No ramo da política, esta rapidez é mais ou menos o mesmo que levantar poeira para não se ver o que se passa. Não há muito tempo, estava-se a falar de roubos no aeroporto e outras coisas com aplicações de telemóvel, e estava a correr mal para algumas pessoas. Essas pessoas ripostaram com um ataque ao governo, amplamente criticado por ser uma manobra de distracção, e que não iria resultar. E, entretanto, o que aconteceu aos casos deles? Também não sei, mas, ao que parece, já não interessa.
    Do outro lado do charco, há gente a disparar e a fazer bullying para todo o lado, principalmente para amigos (jogada estranha…), mas são tantas ao mesmo tempo que não dá para seguir todas. Imagino que seja parte do plano, como podemos saber o que aconteceu com a questão das pescas se já temos de nos preocupar urgentemente com as energias renováveis? E isto vindo de pessoas que são anti-renováveis e que agora são os maiores apoiantes de carros eléctricos… Já da democracia e soberania de outros países (e em geral), não tanto.
    Com isto tudo, ainda faltam as tendências nas redes sociais, que não tenho. Como posso acompanhar os desafios do momento? Não dá, até porque nem sei onde os procurar, e quando oiço falar neles, já há um novo. O “that’s so last year” tornou-se no “that’s so last week”, e não tenho capacidade para estar a par. Felizmente, há rubricas como o “Extremamente Desagradável” e a sua cara-metade da tarde (pun intended) “Seja o Que Deus Quiser” para nos trazer os disparates mais relevantes. Que por sua vez, me fazem ter menos vontade de tentar estar a par do que se passa nas redes sociais, por mais divertidos que sejam, e são muito. Na volta, é melhor ter só atenção e ver se as malas estão bem identificadas. Jogar pelo seguro.

20 fevereiro, 2025

A Doença

    Recentemente, estive doente. Nada de mais, não é uma coisa que aconteça muitas vezes, mas acontece, como a toda a gente. No entanto, sou homem, portanto, achei que ia morrer.
    Foi tão grave que tive de pedir uma tarde sem trabalhar na empresa. Achei que era melhor seguir os conselhos dos médicos de antigamente e repousar. Se dantes era assim, fosse febre, uma perna partida, dar à luz, ou stress, a prescrição era repousar, porque não seguir os ensinamentos dos nossos antepassados? E foi o que fiz, deitei-me depois do almoço, que não comi, e acordei às 8 da manhã do dia seguinte. Devo ter repousado umas 18 horas, com intervalos curtos para ir à casa de banho e beber água.
    Não posso dizer que tenha visto a luz, a sinusite era tal que mal conseguia abrir os olhos. Ainda assim, num delírio a meio da noite, acordei preocupado por nunca ter feito um testamento. Acabou por não ser importante, porque a única coisa que deixo aos meus pais é o quarto vago.

20 dezembro, 2024

Norte, Sul, Este e Aquele

    Falar e escrever são coisas diferentes. Em geral, escrever é mais formal. Esta formalidade é normalmente usada em artigos de jornais ou posts nas redes sociais. Por exemplo, esta última frase seria “é normalmente utilizada em artigos”. Dá logo outro ar, parece mais erudito. Um mecânico que usa uma ferramenta é um bruto, mas se utilizar a ferramenta, já sabe o que está a fazer.
    E, por isso, vemos artigos todos apinocados na internet. Na minha opinião, é mais chato (o word sugere que troque “chato” por “maçador”... também é do sistema), porque quando leio fico preso nas palavras que lá estão a abrilhantar o artigo, e acabo por me esquecer de qual é o assunto do artigo. É habitual ver aquele toque de trabalho de grupo da faculdade de usar “estes” para fingir que não se está a repetir muitas vezes a mesma coisa. Quando se está a fazer testes de esforço e se fala dos participantes, é frequente usar “estes” para descrever os participantes ou testes na frase seguinte para não estar a duplicar. Ou pior, escrever “os mesmos”. A diferença é que nos jornais são grupos de cidadãos ou associações a fazer protestos ou comunicações.
    O formalismo que mais me incomoda é o da enumeração com exemplos. Muitas vezes há artigos em que se fala de uma indústria ou economia emergente, descrita como estando a ultrapassar as mais fortes “como EUA, China ou Alemanha”. Ou? Como ou? Não sabem qual delas é? Estas coisas são medidas em números, é só ver se é quantidade ou percentagem, e comparar com as outras. Se calhar é só para facilitar, tipo “eh pá, mete aí umas das grandes, ninguém se interessa o suficiente para ir ver”.
    No jornalismo desportivo então, este exemplo está em todo o lado. “O jogador tal anunciou o ponto final na carreira, que o viu passar por clubes como Benfica, Porto, Sporting ou Braga”. Lá está, não é difícil descobrir por onde andou. Os treinadores também têm extensas carreiras por países como Portugal, Espanha, Inglaterra ou Itália. É que ainda por cima, agora faz-se tudo no computador, é só ir à net ver esta informação. Podem consultar sites como zerozero, playmaker ou wikipedia.