Nesta era de diversidade e inclusão, é pena ver que ainda há quem resista à mudança. O campo fértil dos reality shows acaba por ser a mesma coisa com uma pintura diferente. E acaba por ter sempre influencers a fazer as mesmas coisas que os influencers anteriores fizeram. Está na altura de trazer os idosos a jogo.
Tal como nos outros programas, a ideia é fechar 10 ou 12 pessoas numa casa e ver o que acontece. Os reality shows não têm assim tanta ciência. Durante a manhã, a grande preocupação é descobrir se alguém foi buscar o jornal e onde está, para se poder ler. A tarde é passada a discutir as diferenças na escolaridade de cada pessoa, porque os mais velhos acham sempre que no tempo deles era mais difícil, e que os mais novos não sabem o que é ter de se esforçar a sério. A pergunta “quem é que disse isso?” tem um sentido diferente. Já não é para andar à bulha, mas para esclarecer uma dúvida, uma vez que alguns não se lembram e os outros estavam a “descansar a vista”. E o ponto alto do dia é saber se o lanche vem a horas, basta uns minutos de atraso para causar logo stress e começar tudo à procura da caixa de comprimidos para a tensão. Tudo isto ao som de uma televisão aos gritos num canal de notícias.
Para criar um pouco de conflito e polémica na casa, pode-se fazer com que as participações sejam aos pares, de familiares ou amigos. Neste formato, quando alguém começar a contar uma história, há sempre quem conteste e diga “lá estás tu a inventar, não foi nada assim”, e fala por cima. Pode é ser difícil para os espectadores identificar quem tem problemas com quem, porque os idosos tratam-se todos pelos nomes completos, e varia entre familiar e amigo: os familiares tratam-se pelos nomes próprios, tipo Álvaro Manuel ou Maria José, e os amigos pelos apelidos, tipo Carvalho e Silva ou Pereira de Figueiredo. No meio de tanto nome deve ser confuso saber com quem estão a falar ou se estão a falar com mais do que uma pessoa.
Admito que poderá ser um pouco repetitivo, mas não é sempre? A única razão para as televisões não apostarem neste formato é financeira, como sempre. As pessoas mais velhas acordam e deitam-se muito cedo, e isso é mau para as audiências, e como não se devem lembrar das sessões para eliminar participantes, o último a morrer deve ser o vencedor, o que significa que o programa pode durar muitos anos. Mas nunca atingiremos a representatividade plena sem dar o primeiro passo.