De vez em quando, morre gente. É natural, e toda a gente tem tendência para o fazer pelo menos uma vez na vida. Mas às vezes, morre gente famosa, e isso é muito chato. Chato por morrer alguém, claro, mas também chato pelos que ficam. Não para os que ficam, isso é só quando morre alguém próximo. É mesmo pelos que ficam.
As pessoas famosas têm colegas de profissão, igualmente famosos, e pessoas que tentam ser colegas e famosas. Nesta era das redes sociais, isso é uma grande chatice. Lemos a notícia, e têm logo vários links para posts de outras pessoas a lamentar a partida do defunto, metendo pelo meio uma certa e determinada autopromoção. Quantas vezes vimos já textos tipo: morreu fulano tal, uma grande perda. Nunca me vou esquecer daquele dia em que me cruzei com ele, completamente por acaso, no café onde ia todas as manhãs, e me disse “tu vais ser o futuro do romance histórico no país, aguenta-te firme que as pessoas vão perceber”. Verídico? Possível. Apropriado? Discutível.
Ou: morreu fulano tal, a música nunca mais será a mesma. Apesar de já não fazer nada de novo há 20 anos, disse-me uma vez que eu era o herdeiro do espírito criativo e de ruptura com a norma que o trouxe para os grandes palcos nos anos 1980.
As televisões e a rádio também têm alguma culpa. Também gostam de telefonar a famosos aleatórios a perguntar o que achavam do morto, e é sempre na linha do “gostava muito dele, e ele de mim, costumava enviar-lhe as minhas coisas novas e ele respondia sempre que tinha gostado muito, era um grande admirador da minha obra”.
A questão é que é para falar da outra pessoa. Se a pessoa é famosa, basta ir à net e escrever o nome, nem é preciso inventar nada. Recomendo a estandardização: os telejornais escrevem um texto do tipo “acabei de saber e fiquei triste, fez excelentes contributos na sua área, vou ter saudades”. E pronto. Se for assim curtinho, podem ter montes de gente a dizer que ficou triste, não se perde tempo com desvios de conversa.