22 março, 2022

Política laboral

    No ano passado, fui contratado. Assinei um contrato que dizia que iria colaborar com a empresa durante 6 meses, e depois, dependendo da minha performance, poderia ser renovado. Éramos vários para poucos lugares, portanto, no primeiro mês matei-me a trabalhar/colaborar, e a fazer horários de 10 horas por dia para mostrar o meu valor.
    Mas isto começou a pesar. Felizmente, foi na altura das eleições autárquicas e, enquanto ia a pé à escola onde voto e pensava no que fazer para sobreviver a 6 meses de colaboração tão intensa, reparei numa coisa estranha. Tinha atravessado a rua numa passadeira acabada de pintar, numa estrada com alcatrão novo. E pensei “será que se pode tirar daqui uma lição?” Claro. As juntas de freguesia e câmaras municipais fazem sempre mais coisas no final dos mandatos. Mas como aplicar isto na empresa?
    Bom, uma coisa já estava feita: tinha começado o mandato com muita actividade, já dava uma imagem de uma autarquia que quer mostrar serviço e que está activa e dinâmica. Portanto, estava na altura de acalmar. Reduzi a produtividade para o mínimo que me era pedido, mas comecei a apresentar sugestões de mudanças e melhorias que se podiam fazer no trabalho. Como é óbvio, as sugestões eram irreais, mas eu preferia chamar-lhes ambiciosas, e assim, quando se via que eram impossíveis de realizar, estávamos apenas limitados pela conjuntura. Ao mesmo tempo, insinuava que as ideias dos meus colegas ficavam aquém do que era preciso.
    Ali perto do último mês de contrato, voltei à carga em força. Tudo o que havia para fazer, ficou feito. Despachava o meu trabalho todo antes das 11 da manhã, e a partir daí fazia o trabalho dos meus colegas. Alcatroei todas as ruas do município, pintei passadeiras em todo o lado para estimular o tráfego pedonal, e arranjei os jardins todos. Foi um trabalho impecável, e deu resultados. Fui o primeiro a renovar contrato. Agora tenho tempo para planear o próximo mandato. Será que dá para organizar os estagiários numa espécie de Jota? Pode ser que dê jeito ter uma claque de apoio nas reuniões para aplaudir as minhas ideias.