É recorrente ler notícias em que algum membro do governo
comenta um tema, à margem de um evento sobre outro tema. Não se sabe bem de que
se falou, mas o secretário de estado comentou aquela caixa extra no caso de
Tancos. Na manhã seguinte, sai a notícia com os comentários sobre a dita caixa,
à margem de um simpósio sobre pescas.
Isto repete-se, e muitas margens são percorridas. Alguém
teve de ir atrás do ministro da defesa que estava na Alemanha numa reunião de
segurança, mas quando se pergunta à margem se a situação é volátil, o ministro
responde "Não é o momento para falar disso, o que é importante é renovar
os manuais escolares, que estão desactualizados". Vamos então ter com o
ministro da educação, que está a assistir a uma aula aberta na UTAD e, como
qualquer bom aluno, responde à pergunta "Que tal foi a aula?" com
"Não prestei atenção, estava a pensar no problema da mão de obra na apanha
da azeitona, tão importante na economia nacional". Por sua vez, o ministro
da economia está no norte de Itália numa feira de calçado. Mas, à margem da
feira, fala da violência no desporto. Daqui vamos até à Ajuda, onde o
secretário de estado do desporto está a planear o próximo ciclo olímpico com o
Comité Olímpico de Portugal, que finta o tema e comenta a situação da
habitação.
Aqui temos um pouco de sorte, porque estão vinte
presidentes de câmara no salão imobiliário da FIL. Contudo, à margem do salão,
cada presidente refere que não é tempo de falar nisso, mas que estará no fim de
semana seguinte na feira de enchidos de Santarém e pode ser falado na altura.
Isso, ou o sector têxtil. Podemos não ter onde viver, mas uma manta de fabrico
nacional mantém-nos quentes e aconchegados o ano todo.
Deve ser muito difícil ser jornalista nestas
situações. Como é que se sabe o que é um comentário à margem? Se um político
está mal disposto, é uma crítica ao SNS? Foi só o almoço que caiu mal? E nas
sessões parlamentares? As propostas devem ser escritas num guardanapo no corredor
e votadas de mão no ar. Só pode ser assim, de resto, não há tempo. “Vá, pessoal,
rápido, que temos de voltar para dentro. Quem concorda?”. Os intervalos podem
ser curtos, é preciso saber distinguir o que deve sair no jornal na manhã
seguinte. Pelo menos, podem descansar durante as longas reuniões entre intervalos.
É a altura de ir pôr "gostos" nas fotos dos amigos nas redes sociais.
Mas só nas com praias fluviais.