16 julho, 2022

A Midsummer Night’s Rant

    Eu gosto de história. Sempre adorei estudar história, e ler livros e artigos sobre antigas civilizações, crescimento e queda de impérios, evoluções e revoluções, descobertas, o que apanhasse. Adorava poder ter visto a queda do Muro de Berlim, mas tinha nascido há pouco tempo e nem sabia que a Alemanha existia, muito menos que havia duas. Mas tive sempre o desejo de viver tempos históricos como esse, momentos que mudam o mundo da noite para o dia.
    O século XX é, aliás, uma época a que gostaria de poder ter assistido de uma ponta à outra. Não que seja melhor do que os séculos anteriores. O Século XIX começou com as guerras Napoleónicas e acabou com a literatura de ficção científica de H. G. Wells, e teve as teorias revolucionárias de Karl Marx pelo meio. Cada século tem milhares de acontecimentos marcantes, mas os do século XX puxam mais por mim. Acho fascinante ler a evolução dos acontecimentos e pensar “como é que ninguém deu por isto?”, e fico intrigado com a incapacidade de travar as coisas mais negras que aconteceram nesse tempo.
    Depois, como é óbvio, noto as semelhanças com a actualidade. A “paz armada” que antecedeu a Primeira Guerra Mundial e a sua violência, e os investimentos militares das maiores potências mundiais de hoje, mas que são feitos apenas por precaução. O crescimento de ideologias extremistas e opressivas no prenúncio da Segunda Guerra Mundial, e alguns dos líderes eleitos nos últimos anos nessas mesmas potências. As crises económicas devastadoras, quando a economia “consegue” antecipar essas crises. E, no meio disto tudo, uma pandemia que varreu o planeta e matou milhões de pessoas num instante.
    A pandemia teve algumas vantagens, como o teletrabalho. Mas também mostrou quem manda. Durante o tempo em que tudo esteve parado, os níveis de poluição no ar melhoraram. E tal como o melhor aluno da turma avisa o professor que se esqueceu do trabalho de casa, alguém se lembrou que isso não era rentável, e lá voltou tudo a funcionar. À margem disto, fazem-se conferências para definir que a temperatura global não pode aumentar mais do que 1.5 graus. E depois, começa uma guerra, para ajudar a atingir o objectivo.
    A par disto, a luta pela conquista de direitos sociais leva uma mocada, com a auto-intitulada melhor democracia do mundo a finalmente deixar de fingir que considera todas as pessoas iguais. Mais ou menos metade da população deixa de poder decidir o que fazer com o seu próprio corpo, porque não tem antecedente histórico para o fazer. Esta decisão vem a mando de uma facção fundamentalista religiosa, num país teoricamente laico, e com as maiores liberdades do mundo, incluindo religiosa. No entanto, praticantes de outras religiões, ou de nenhuma, levam por tabela. E esta decisão deixa a porta aberta para que outras pessoas sejam ainda menos iguais. Os vizinhos não podem casar com uma pessoa qualquer. Que vem a ser isto?
    Com tanta coisa a acontecer, acho que já vivi acontecimentos marcantes suficientes. Se calhar, podíamos ficar por aqui.
    Ou, pelo menos, arranjar qualquer coisa menos marcante. Assim tipo encontrar uma t-shirt gira, mas que é demasiado grande. “Tem igual mas mais pequeno?”