À medida que o cabelo vai caindo, vou pensando em que tipo de velho me vou tornar. Há vários caminhos a seguir, e não tenho a certeza se é uma escolha ou se é só a evolução natural da vida.
Por falar em caminhos, será que vou ser daqueles que se consideram um GPS humano? Teria de passar os meus tempos de leitura com mapas do ACP, mas por mais que se estude, isso não traz os níveis de assertividade necessários para intervir em qualquer situação com indicações não pedidas sobre a melhor forma de chegar a Tábua, ao mesmo tempo que se rejeita qualquer sugestão quando se está ao volante.
Ou será que vou decidir que o meu único propósito de vida é dedicar-me aos meus netos, a quem me passarei a referir exclusivamente como “o meu menino/a minha menina”? Nesta situação, tenho de ganhar traquejo a desviar conversas. Fazes surf? Os meus meninos gostam muito de nadar. Descobriste uma receita nova? Os meus meninos comem muito bem. O verdadeiro truque é conseguir ser incómodo q.b.. Mas, não tendo filhos, esta opção parece um pouco improvável, mesmo que seja uma escolha.
Também estou interessado em saber se vou passar a usar artigos definidos por todo o lado. Quando era miúdo, estudei português e matemática, mas sinto que no futuro vou passar a ter estudado o português e a matemática. A par disto, os aniversários também vão mudar. Em vez de ter ido ao Portugal dos Pequenitos quando fiz 6 anos, a nova versão vai ser que fui fazer os 6 anos a Coimbra, ou que fui fazer os 10 a Lisboa. Espero que haja um período de adaptação, porque deve ser uma mudança difícil de fazer de um dia para o outro.
Infelizmente, todas as opções implicam falar muito, que não é a minha praia. Seja uma escolha ou não, acho que vou ter de me casar com alguém que fale muito e deixar que seja ela a tratar de tudo, e eu só tenho de concordar ou dizer “parabéns” no final dos telefonemas. E assim, só tenho de comentar que a chuva até é boa, porque não faz tanto frio.