20 novembro, 2023

Inclusividade forçada

    É um tema controverso, mas é um problema que nos afecta a todos. Somos frequentemente confrontados com situações em que outras pessoas nos fazem sentir incómodos só por estarmos presentes, e isso só piora nesta altura do ano.
    Vêm aí as festas de Natal das empresas e, com elas, começam a chegar pedidos para participar nas actividades que se inventam para estas coisas. Claro que é sempre giro, mas é giro de ver. Mais do que isso já se torna um bocadinho chato. E para aqueles de nós que nem sempre estão no escritório, ainda é pior, porque isso depois é usado como justificação para nos convencerem a participar. É a versão corporativa da velha frase “tudo o que disser pode ser usado contra si”. “Nunca apareces, assim as pessoas ficavam a conhecer-te.” Pois, Vítor, mas quando vou ao escritório estou sempre com as mesmas sete pessoas, e devemos ser mais de cinquenta. Podia ir uma das outras, e assim também a ficava a conhecer.
    Mas não, é mais importante sermos nós a participar, o que é uma chatice. E se cairmos na asneira de ceder um bocadinho, estamos entalados. Fazer um pequeno texto sobre como é a vida na nossa cidade em confinamento rapidamente evolui para um “e se contasses no evento online em vez de escreveres?”, e já fomos apanhados. Depois, podemos fazer uma apresentação maior e mais completa no evento seguinte, já que correu tão bem, e, antes de darmos por isso, estão a propor que sejamos o anfitrião do evento. Ó Vítor, eu nem vou regularmente ao escritório, Vítor! “Pois, daí ser bom seres tu o anfitrião.” Raios partam, quando é que podemos voltar a ser apenas números para as empresas?