De vez em quando, gosto de ler biografias. Acho interessante ver o percurso que as pessoas fizeram para chegar onde chegaram, como o fizeram e porquê. Infelizmente, mais tarde, acabo por cair no erro de ver um filme biográfico sobre essas pessoas.
O início do filme mostra sempre uma origem humilde e difícil. Na faculdade, apesar de ter crescido numa família de políticos, o nosso protagonista descobre o activismo político totalmente por acaso num encontro inesperado. Normalmente vai contra as ideias da sua família e há sempre grandes discussões. Também é contra a violência do grupo a que se junta, e não participa nos seus actos de vandalismo, excepto se tiver sido obrigado, que lhe trazem grandes chatices mas fortalecem o carácter. Ao longo do tempo, os colegas vêem-no como um líder silencioso e sensato, e tem de aceitar, relutantemente, ser escolhido para dirigir o grupo, que mais tarde o vai levar a um cargo público de grande visibilidade e ser aclamado como um herói, mas um herói relutante, porque isso lhe dá clareza e sentido de responsabilidade.
Na realidade, este protagonista nasceu numa das grandes famílias políticas ou empresariais do século XX, em que todos os familiares estavam na política. Não entrou na política por acaso, nem teve discussões na família, porque todos concordavam com o mesmo. Assim até foi mais fácil, porque era só orientar e limar arestas. Os problemas de vandalismo foram silenciosamente resolvidos por telefonemas, não fosse manchar a reputação da família, e foi também um dos mais vocais e activos membros do grupo a que se juntou, subindo gradualmente até chegar à liderança.
Nos filmes, as diferenças entre protagonistas acabam por ser só geográficas. Se nasceu no Ocidente, é uma excelente pessoa, já no Oriente, é um terrível ditador. Quando é preciso matar pessoas à fome e favorecer alguns a custo de muitos, fá-lo a chorar ou a rir-se maldosamente, dependendo do hemisfério. Fico sempre a pensar no xarope que nos tentam dar, porque olhando com alguma distância, a propaganda é a mesma, mas só é aceitável de um dos lados. Paralelamente, de um lado há corrupção por todo o lado, e do outro não, porque se chama lobby. É uma questão de perspectiva.
Chegamos ao fim do filme a pensar que gostámos mais do livro, apesar de o filme ser mais divertido. Mas com uma sensação estranha.