Ao longo do tempo, tive a sorte de estar envolvido na música
e no desporto. Graças às minhas qualidades nas duas áreas, agora trabalho num
escritório, a fingir que sei arquivar pastas. Quando alguém for lá abaixo, vai
ter uma surpresa... Mas, voltando ao tema, notei que a música e o desporto têm
alguns pontos em comum.
Em
ambos, há uma fase de preparação (ensaios na música, treinos no desporto), e o
evento em si (concertos e jogos). Pode haver actuações suaves e tranquilas,
como no snooker, ou barulhentas, como no rally. Pode ser a solo, como no ténis
(se bem que não deve haver muitos músicos capazes de trocar de mão como o Roger
Federer) ou na natação, como aqueles guitarristas virtuosos que tocam o mais
rápido que conseguem, ou em banda, como os desportos colectivos. Aqui, podemos
ter uma equipa de basquete em palco, capaz de reagir rapidamente a mudanças e
adaptar o estilo de jogo e o caminho a seguir, ou uma equipa de futebol a tentar
controlar o ritmo de jogo para marcar golo e ganhar.
No
entanto, há uma coisa que, na minha opinião, falha neste paralelo. Não há a
fanfarra à volta do jogo, falta a conferência de antevisão do jogo, a flash
interview, e a conferência pós-jogo. A flash interview é, sem dúvida, a mais
importante, especialmente nos concertos em bares. É o calor do momento, acabou
o concerto, um dos músicos desce de palco e tem logo um microfone na cara e um
jornalista a fazer perguntas não relacionadas com o que acabou de acontecer.
Acho que faz falta uma interacção como esta:
“– Foi
uma noite complicada?
–
Sabíamos o que tínhamos a fazer, trabalhámos a semana toda e estávamos
preparados. Sabíamos que era preciso dominar logo a partir do primeiro minuto e
captar a atenção do público para controlar a noite.
–
Ficou, então, com a sensação de missão cumprida.
– Sim,
nós sabíamos o que estava em jogo esta noite, os Almirantes tocaram aqui na
semana passada e, portanto, tínhamos de fazer uma boa actuação para não perder
andamento. Houve ali uma fase em que estava uma mesa distraída do lado
esquerdo, mas o teclista esteve à altura e conseguiu sempre controlar, esteve
bem e dou-lhe os parabéns.
– Com
esta afirmação, desmente as notícias que falam num desentendimento entre si e o
teclista?
– Não
há desentendimento nenhum, somos colegas, temos as nossas opiniões, mas sabemos
o que queremos e o que é melhor para o grupo. São coisas sem fundamento que
aparecem na comunicação social.
– E que
diz sobre os rumores que indicam a sua possível saída para uma banda
internacional?
– Não
há nada a dizer, tenho contrato com a banda, e o meu foco é no trabalho que
temos para fazer. O futuro, ninguém conhece, mas estou focado no presente e no
que é real, não em rumores.”
Acho
que isto é uma lacuna na nossa vida. Vou preparar um dossier para apresentar às
editoras nacionais. Sem dúvida que é uma ideia milionária.