Aventurei-me, recentemente, no mercado imobiliário. É uma
experiência interessante. Por um lado, podemos ver casas, imaginar como
faríamos a organização do espaço, afinar os pontos a que damos mais importância,
e o que não queremos de todo. Por outro lado, os melhores apartamentos são
gabinetes de contabilidade.
É verdade, e desanimador. Já passei em vários gabinetes e
saí de lá a pensar que devia ter feito uma proposta mais cedo, mesmo não tendo
sequer sabido que aquele espaço existia. Um T3 com 85 metros quadrados, bem
localizado, com vista para o rio, e um daqueles halls de entrada onde dá logo
vontade de ficar sentado a ler confortavelmente, tem em cada divisão 3 ou 4
pessoas a calcular IVAs e pagamentos por conta, a processar vencimentos, e a
arquivar os últimos 5 anos de toda a gente.
No entanto, qualquer “magnífico apartamento” é um T0 com 25
metros quadrados, incluindo logradouro (que é mais fino do que um terraço e
sobe logo 10 mil euros no preço), com uma cozinha americana, que imagino que
seja só um microondas e lava-loiça, porque eles não cozinham, num 5º andar sem
elevador. Normalmente custam os olhos da cara e a promessa de entregar o
primeiro filho como caução, mas temos sempre a sorte de estar abaixo do valor
de mercado da zona. É caro na mesma, mas é um achado fantástico, e temos de ser
rápidos porque há muitos interessados. Depois é preciso pensar nas obras e lá
se vai a sorte no preço. E o segundo filho. No final de tudo, já não era preciso
um T3, e recomeça a demanda de encontrar uma casa mais pequena.
Por isso, decidi ir por outro caminho. Comprei um terreno e
arranjei uma casa feita com contentores no campo. Está na moda, é muito mais
barato, e podemos moldar a casa como quisermos, sem as chatices que tem um
apartamento na cidade (tipo vizinhos). Montámos uma casa bestial, com um quarto
para cada, escritório, salas com bom espaço para poder entreter, uma cozinha a
sério, e uma piscina cá fora, com um deck, que também está na moda. Estava tão
boa, que no dia em que ficou pronta e nos mudámos para lá, o meu contabilista
tinha montado o gabinete dele lá em casa. Até tem daqueles incentivos por estar
a criar um negócio no campo. Portanto, a procura continua.