21 setembro, 2022

You've got mail

    Recentemente, recebi um convite da minha empresa para participar numa formação online sobre emails. Especificamente, etiqueta ao enviar emails. Achei que era uma coincidência engraçada, visto que 80% do meu trabalho é mandar emails.
    Aprendi algumas coisas interessantes, apesar de não haver grandes novidades. Por exemplo, ter bem definido para quem se deve enviar o email. Parece óbvio, mas quase toda a gente já fez o clássico “responder para todos” com uma pergunta simples e ter respostas de gente que não faz ideia do que se está a falar. No entanto, o exemplo dado no curso foi enviar um email para o departamento tecnológico a perguntar se as vendas foram feitas. Diria que isto já é um bocadinho esticar a corda do “ups, não era para ti”. Junta o erro ocasional com adivinhação de quem deve fazer o quê, como se quando se escreve um email, se pensa “vou mandar ao Vítor, ele deve saber”. Talvez se esteja a generalizar esta ideia.
    Outro assunto engraçado foi a diferença entre “para”, “cc” e “cco”. O “cco” é fácil de entender, mas a pessoa “escondida” depois não recebe a resposta, o que implica ter que encaminhar a resposta, e isso não é amigo do famoso time management. Já o “para” e o “cc”, são a mesma coisa, com roupagem diferente. Os emails vão na mesma para as pessoas certas e todas sabem quem recebeu, mas quem estiver em “cc”, já sabe que não precisa de se preocupar. O “cc” tem também a vantagem de poder ter lá o nosso chefe, sempre dá um pouco mais de força ao email. Ou pior, o chefe da pessoa a quem estamos a mandar o email.
    O meu assunto preferido foi, de longe, responder a feedback. É do mais absurdo e hilariante que se pode imaginar, e este foi o exemplo dado: Depois de ter feito uma apresentação, recebeu um email do colega Vítor a apontar algumas falhas na sua comunicação e como podia ter aproveitado os slides para passar melhor a mensagem. Qual acha que será a reacção correcta?
        a) não responder;
        b) insultar o Vítor;
        c) agradecer o feedback, e perguntar por exemplos concretos que lhe pareçam mais urgentes, sugerindo a possibilidade de se reunirem para ver em pessoa.
    Nem é preciso ler as opções para saber que a resposta mais longa é a certa. Tantos anos a estudar tinham de servir para alguma coisa. Mas as outras opções são fantásticas. Já tive vontade de ignorar emails, mas nunca pensei que fosse uma hipótese válida. Até porque depois abrimos a porta do escritório e a pessoa está mesmo ali, ou então o chefe passa e lembra-nos que falta responder à tal pessoa. O insulto é ainda melhor. A resposta apropriada para “tenta falar mais devagar e respirar entre frases” é “o que é que tu queres, meu palhaço?”. Com certeza que já todos nos cruzámos com colegas mais chatos, mas partir para o insulto é um salto um bocadinho grande.
    Até porque ainda vai em “responder para todos”, e é uma chatice gigante.