– Então, homem, tudo bem?
– Ah, conseguiste vir! Como estás?
– Eh pá, não estás a ver no stress em que eu ando.
– Então, o que aconteceu?
– Nem te conto, é melhor nem falar.
– Ok, mudamos de assunto. Como vai a tua procura de casa?
– Vai bem, tenho deitado um olho aqui e ali, há algumas coisas interessantes.
– Boa, isso é bom, já podes pensar em sair de casa dos teus pais. Já visitaste alguma casa?
– Não. Quer dizer, pensei nisso, mas ainda não vi nada. Ainda não fui procurar.
– E viste o link que te mandei?
– Não cheguei a ver, ainda não tive tempo.
– Para abrir um link?
– Não, sabes como é... Uma pessoa quer ver, mas não consegue, há muita coisa à volta.
– Pois, claro. Só pensei que estavas a procurar activamente.
– E estou, é só que agora ando com este stress...
– Então?
– Nem quero falar nisso... É que vim agora do centro de saúde com os meus pais. Aquilo está difícil, estiveram a fazer análises à minha mãe e dizem que tem de mudar algumas coisas na alimentação e no estilo de vida, ou daqui a 2, 3 anos, tem problemas nos rins. Estás a ver porque não saio de casa, não é?
– Bom, é complicado, mas ainda falta algum tempo, e pode-se reduzir o risco até lá. Vais pôr a tua vida em espera por causa de uma coisa que pode nem acontecer? Tens tempo para ter uma vida organizada e poder ajudar os teus pais.
– Eh pá, pois... Não sei... Tenho de pensar... A propósito, sabes onde se arranja uma mó de alce?
– Mó de alce? Nunca ouvi falar.
– Foi a médica que falou nisso. Disse que se a minha mãe tiver problemas renais vai precisar de fazer uma mó de alce.
– Não terá dito “hemodiálise”? É o que se costuma fazer com problemas renais.
– Talvez, não sei, tenho de saber melhor. Mas estás a ver, ela diz isto, e a minha mãe fica preocupada, e depois o meu pai começa logo a ficar vermelho e a gritar “E agora? E agora? Que é que vamos fazer?”, e a médica “Xô Júlio, olhe que o xôr não se pode irritar, olhe a sua tensão alta”, e a minha mãe quase a desmaiar com os nervos “Julinho, tu acalma o teu pai, meu deus”...
– Espera aí, a tua mãe chama-te Julinho?
– É para distinguir do meu pai. E nisto, a médica a dizer “Isto ainda não é agora, vamos ter de rever ao longo do tempo, ainda está tudo bem”, mas o meu pai só bufava e ficava cada vez mais vermelho. A viagem de regresso foi um tormento, por isso é que demorei tanto tempo, estive a ver se acalmava os meus pais.
– Pois, percebo. Mas repara, ainda não é certo e têm tempo para se organizarem e ajustar no que for preciso.
– Sim, tens razão, e estou mesmo a precisar. Mas como isto está…