Vivemos tempos conturbados, não há como negar. E ao que parece, vão ser ainda piores (vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem). Seja na Ucrânia, na Palestina, ou em Taiwan, vem aí uma tempestade. E isto é sem falar de todos os outros conflitos a decorrer no resto do mundo.
Nós temos sorte. Viver em Portugal é viver numa bolha, dentro da bolha que é a UE, dentro da bolha que é o mundo ocidental. Esta sorte pode estar a acabar. Eu sou dos que acredita que a Rússia não está interessada só na Ucrânia, e considerando que no final do ano o maior apoiante do presidente russo pode ser reeleito nos EUA e sair da NATO, diria que estamos em perigo, mesmo estando longe geograficamente.
A pensar nisso, voltou a falar-se com mais força do serviço militar obrigatório (SMO) em Portugal. Como habitual, foi tirado do contexto. O que li do que disse o Capitão Iglo das vacinas foi que se devia estudar essa hipótese. Portanto, para a opinião pública, o SMO vai começar no final do mês. Não sei como uma coisa levou a outra, mas entretanto houve vários textos a falar sobre isso. Este vem fora de tempo, mas é só mais um e ninguém lê este blog, até parece que faz diferença.
Li um texto em que se referia ao serviço militar na Constituição como um direito e um dever. Penso que não só está certo, como é algo de que todos temos de ter consciência. No entanto, não concordo que isso leve ao SMO. Não tenho nada contra o serviço militar, apenas contra o facto de se obrigar alguém a fazê-lo. Em geral, as pessoas que são a favor não são as que serão obrigadas a fazê-lo. Ou porque já o terão feito ou por terem seguido a carreira militar. Mas argumentam que faz bem a toda a gente, porque lhes fez bem a eles, tal como faz bem a toda a gente trabalhar a 100% no escritório no período pós-pandemia. Somos todos iguais no que toca ao que faz bem. É aquele paternalismo do “vais ver que mais tarde me vais
agradecer”. E também do “acho que deve ser feito, mas não por mim”.
Eu sou das primeiras gerações a fazer o Dia da Defesa Nacional, onde nos são apresentados os três ramos do serviço militar e nos é dada a opção de querer saber mais e escolher seguir por esse caminho. Sou, portanto, da geração que reivindica pelos direitos, e refila com o resto. A opinião da minha geração vale um bocadinho menos do que as outras, mas se para combater o menor número de voluntários é preciso obrigar pessoas a fazê-lo, diria que se está a seguir pelo caminho errado.
Há o argumento que o SMO é uma escola de cidadania. Nunca pensei que cidadania se adquiria com alguém aos gritos connosco o dia todo, com castigos físicos, obediência inquestionável à hierarquia, e tratamento duro em geral. Se a cidadania precisa de uma escola, na volta era mais adequado fazê-lo, lá está, na escola.